Está morta a menina de 15 anos que agonizou por horas à espera de um leito na UTI do Walfredo Gurgel. Francimar Ferreira da Silva foi atropelada na manhã do domingo no bairro Planalto, onde morava, e teve morte encefálica declarada na madrugada de hoje. De acordo com o médico intensivista Sebastião Paulino, a falta de atendimento numa UTI foi fator preponderante para a morte da garota.
“Eu afirmo isso com segurança em qualquer tribunal. A garota precisava ser atendida numa UTI logo depois que foi operada. E a falta da UTI fez com que a morte dela ocorresse com mais celeridade”, disse o dr. Sebastião Paulino, que acompanhou o caso de perto no Walfredo Gurgel.
Francimar sofreu um acidente bastante violento, por volta das 9h30 do domingo. Chegou a ser arremessada contra uma cigarreira e teve a perna direita esmagada. Assim que chegou ao hospital foi atendida, e precisou ter a perna amputada. Depois da operação ela ficou no centro cirúrgico à espera de uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva. “Ela precisava de uma UTI imediatamente, onde receberia tratamento especializado. Mas a vaga só apareceu às 3h30 da manhã, em virtude do falecimento de outra paciente”, disse o médico.
Sebastião Paulino explica que um centro cirúrgico ou mesmo um Centro de Recuperação de Operados, por mais que tenha bons profissionais, não conta com a presença de um intensivista, médico especialista no cuidado de pacientes gravíssimos. “Amputar uma perna ou fazer uma pessoa dormir é completamente diferente de manter a homeostase orgânica do paciente. O paciente de UTI tem distúrbios hemodinâmicos com os quais só um intensivista sabe lidar”, esclareceu. A terapia intensiva conta ainda com drogas e equipamentos não existentes no centro cirúrgico.
Quando Francimar foi transferida para UTI, quase 24h depois da cirurgia, ela já tinha sinais típicos da morte encefálica. O protocolo legal para a detecção da morte foi concluído à 1h20 da madrugada de hoje. A menina, como suspeitavam os médicos, estava com morte cerebral. O coração ainda bateria por algumas horas, mas tecnicamente ela foi declarada como morta.
Segundo o Sr. Sebastião Paulino, a menina morreu pelo politraumatismo provocado pelo acidente, mas o estado de saúde dela foi agravado severamente pela falta do atendimento adequado. Quando conversei com o médico ele estava diante da menina, morta, mantida em aparelhos pela possibilidade de serem doados os órgãos em bom funcionamento.
A família já tinha sido avisada. E eu fico pensando como se sente um pai, uma mãe, ao saber que a filha poderia estar viva, ou ter tido uma chance, caso houvesse condições para isso. Fico imaginando quantos casos semelhantes devem ocorrer diariamente e quantos pais tiveram ao menos o direito de saber dessa dura realidade.
(*) Blog de Jackson Damascena